domingo, 6 de dezembro de 2009

causos da solidão


-Acordei com alguns raios de sol que entravam pela janela empoeirada, abri os olhos e senti a vista doer olhei ao meu redor e em minha cama havia alguns papéis,fotos e na mesa de cabeceira o que tinha me feito dormir:comprimidos de morfina.Doce mórfica,doce veneno o qual ingeri na busca de aliviar minha dor constante.
O quarto estava trancado e empoeira não sabia exatamente quanto tem havia dormido, mas creio que o bastante para aquietar as lágrimas no ar um cheiro de amoníaco talvez vindo das paredes velhas daquele mausoléu o qual eu chamara de casa.
Tomei força e saí da cama com as roupas rasgadas,não consegui lembrar exatamente o porque daquilo mas conseguia sentir a dor latejar em mim.Abri uma das janelas e já era um final de tarde frio e vazio,contemplei a cidade de cima de minha varanda em todo o seu esplendor e plenitude,ela estará vazia assim como eu.
Eram ruas sujas pelos passos de pessoas diferentes que por ali passaram. As cores se fundiam no céu já era o crepúsculo e por dormir muito fiquei desorientada do dia em que estava, saí da janela caminhei pelo quarto enorme cheio de móveis antigos e muito papéis,abri a porta do quarto e olhei o corredor que dava para as escadas a casa estava escura e sombria como de costume e o cheiro de amoníaco permanecia no ar.
Talvez eu cheirasse a morte,quem sabe não havia ocorrido e eu ficara presa em minha própria casa talvez não.Segui pelo corredor escuro acendendo um abajur que fica entre as portas de outros quartos,desci as escadas ainda descalça sentindo o frio do chão gelar minha espinha.
Na galeria a qual eu fizera de sala tudo permanecia igual, obscuro, frio e vazio. Segui para a cozinha onde encontrei garrafas de vinho e vodka espalhadas,devo ter misturado vodka vinho e a minha doce morfina na tentativa de anestesia alguns efeitos surtidos em mim.
Abri a geladeira e constatei que estivera vazia apenas jaziam as garrafas de álcool (meu combustível) e água, optei por tomar água, virei à garrafa em minha boca e senti aquele fluido se espalhar pelo meu corpo, encostei-me a pia com a garrafa gelada contra o corpo e senti mais uma vez a lágrima escorrer.
Saí dali subi as escadas e voltei para o quarto, não havia motivos para circular pela casa, tirei aquela roupa rasgada e resolvi tomar um banho, parei diante do espelho e contemplei meu corpo magro e minha cara de doente. Liguei o chuveiro deixando que a água fria escorresse pelo meu corpo magro,permaneci ali por um longo tempo.
Desliguei o chuveiro e agarrei-me a uma toalha negra e felpuda enquanto tentava segurar o grito preso em minha garganta implorando para sair,saí do banheiro pingando e contemplei as giletes que brilhavam em cima da pia um tanto quanto convidativas contudo as ignorei voltei para o quarto e vesti uma camiseta branca acompanhada de um short preto.
Não penteei os cabelos e mais uma vez caí na cama sentindo uma dor no peito, peguei um dos papéis que estava em cima da cama e li os meus relatos que diziam”Não fuja do que sabe que é certo”;”Ouça as minhas súplicas não posso ser largada no abismo mais uma vez,pensei ter o fim próximo mas vejo que este é a penas o início da desgraça”.
Não consigo lembrar a ultima vez que me senti assim, mas deve ter sido a ultima vez em que quebraram meu coração em um milhão de pedaços. Recordo o dia em você partiu, beijou-me e acariciou-me e o no meio da noite deixou-me ali, dormindo ao lado de seu leito.A manhã seguinte foi aterrorizante,lembro-me da dor que me devorava e dos gritos de súplica.
Sobrevivi e com o tempo você voltou para mim, para mais uma vez levar uma parte boa daqui.Mas desta vez você me olhou nos olhos virou as costas e saiu pela porta da frente sem oferecer-me uma palavra.
Fiquei parada sentada no sofá sem consegui me mexer enquanto ouvia os seus passos seguirem porta a fora,senti o medo tomar conta de meu corpo e a certeza que jamais voltaria a vê-la,não sei precisar quanto tempo permaneci naquele estado mas lembro de presenciar a aurora do dia seguinte.
Quando consegui me mexer após chorar madrugada adentro,tranquei todas as portas e janelas recolhi as bebidas que consegui e entrei em minha prisão,nosso quarto,agora meu quarto.
Tentei sentir ódio de você, mas só consegui odiar a mim, rompi os lacres das garrafas e bebi em seus gargalos enquanto recordava do seu rosto e rabiscava minha dor. Após beber muitos litros de álcool na esperança de que ele me mandasse embora dali.
[continua]
Outono. Em frente ao mar. Escancaro as janelasSobre o jardim calado, e as águas miro,absorto.Outono...Rodopiando, as folhas amarelasRolam caem...(...)A água cantou.Rodeava, aos beijos,os teus flancosA espuma, desmanchada em riso e flocos brancos...Mas chegaste com a noite e fugiste com o Sol!...Olavo Bilac, in "Poesias"

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